No dia 13 de dezembro de 1968, foi emitido pelo presidente da época, Artur da Costa e Silva, um documento que mancharia a honra de toda uma nação e seria responsável pela morte de centenas de brasileiros inocentes, além de afundar qualquer chance de um regime democrático genuíno em nosso país, o famoso Ato Institucional n.º 5. Tendo como pano de fundo uma ditadura militar que já havia se iniciado 4 anos antes e se arrastaria até meados de 1985, o AI-5 trazia em seu texto, mesmo que de forma irônica, garantias de; “liberdade”, “respeito à dignidade humana” e “autenticidade da verdadeira democracia”, sendo que para a garantia desse tripé ilusório na época, seria necessário combater toda e qualquer forma de pensamento que não condissesse com os ideais do governo. Durante esse período, boa parte da população brasileira, induzida pela onda do; iê iê iê e do bicho-grilo, se divertia montada em suas carangas pra frentex. As mulheres com suas minissaias e os homens com as famosas jaquetas de couro e calças coladas no corpo, se juntavam a um movimento pseudo-rebelde, que nada mais era do que uma simples luta entre a juventude e a velhice da época. Ao mesmo tempo em que toda essa onda ocorria, outro grupo, talvez o mais singelo, lutava com todas as forças para desconstruir um regime que havia sido consolidado pelos militares e que escondia nos bastidores do nosso querido Brasil muita morte, dor e sofrimento. Um contraste social não muito evidente, sendo que a parte que lutava contra os ideais do governo e criticava o modus operandi do presidente da época, era escondida e muito bem preservada pelo comando militar do nosso país. Enquanto o Brasil se divertia ao som dos Beatles e era governado em nome de Deus, nas celas do extinto DOPS, jovens eram torturados, tinham suas vísceras arrancadas e a pele queimada por cigarro, tudo em nome de uma democracia justa. Hoje em dia, passados 53 anos, boa parte dos brasileiros, sendo a maioria mais velha e nostálgica, relembra do período das trevas com saudades, saudades dos tempos onde a diversão servia como fantasia para esconder o verdadeiro terror que assolava o nosso país. Talvez isso seja um fenômeno novo no campo da psicologia moderna, um vírus que milagrosamente infecta a mente das pessoas e é altamente contagioso, fazendo com que a memória de alguns permaneça curta, qualquer coincidência com o agora é mera semelhança.

Os dois lados da mesma moeda por Flávio Lopes Barbosa

By Flávio Lopes Barbosa

Flávio Lopes Barbosa é escritor, psicólogo, professor e diretor do portal o menestrel. Nasceu em São Paulo – Capital onde reside atualmente. Formado em psicologia clínica pela Universidade São Marcos, tem formação em letras pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em tradutor e interprete da língua inglesa pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em psicologia do trânsito pelo Centro Universitário Celso Lisboa, curso de psicanálise infantil pela Universidade Federal de São Paulo e especialização em dependência química. Lecionou durante anos como professor universitário na Universidade Nove de Julho. Iniciou sua carreira como escritor se dedicando a uma escrita técnica e científica. Atualmente trabalha como psicólogo do trânsito junto ao Detran SP e escreve contos de terror psicológico. Possui nove livros publicados, gosta de abordar temas polêmicos e críticos em seus artigos, normalmente voltados para área pessoal e social.

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