É realmente incrível como a intolerância religiosa vem aumentando de forma vertiginosa no Brasil. Essa semana, como se não bastasse a intolerância em si que já é difícil de tolerar, um homem atirou contra um grupo de umbandistas, ofendendo-os com injúrias raciais. Esse tipo de atitude é tão desprezível, que nos faz questionar se realmente algumas pessoas fazem parte da condição humana. Segundo uma máxima da psicanálise que diz o seguinte: “controlar nada mais é do que medo de perder o controle”, quem age com intolerância deveria rever seus conceitos, por que não tolerar a religião do outro nada mais é que questionar a sua própria crença. Muita gente acredita que a fé é um produto da religião, a psicologia entende que fé é um sentimento humano, a religião se apropriou desse sentimento para consolidar a crença dos seus fiéis. Para quem acredita que agir com intolerância religiosa é sinônimo de bondade, basta lembrar que a própria igreja católica, na época da inquisição religiosa, matou milhões de pessoas em nome da fé e da bondade, e que Hitler assassinou milhões de judeus e se consagrou como o próprio Messias, acreditando que estava fazendo a coisa certa. A verdadeira religião é aquela que está inserida na alma, ela não depende das palavras para se emancipar, sua emancipação se dá mediante atitudes benevolentes, do sentimento de altruísmo e da crítica que a pessoa faz com ela mesma. Segundo Mahatma Gandhi, as religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo? Intolerância rima com arrogância, a pessoa que a pratica está perdida em seus próprios sentimentos, e quem se perde nos próprios sentimentos, obrigatoriamente tem que se alienar aos sentimentos dos outros para se sentir como ser-humano, a pessoa acaba se tornando sem identidade, ligada somente a personalidade alheia. Para que possamos tolerar a crença do outro, é necessário que coloquemos princípios acima da nossa personalidade.  Existe uma discrepância naquilo que é falado com aquilo que é feito, não devemos esquecer nunca que todos os princípios cristãos, independente da religião, devem seguir um padrão de comportamento e atitudes, e não somente de palavras evasivas, discursos vazios, cheios de promessas falsas que servem somente para uma coisa, tornar a pessoa menos humana. O moralismo barato está em pauta no Brasil, devemos tomar cuidado, pois esse sentimento negativo pode gerar uma falsa sensação de fé, onde se mata o outro em nome de Deus e se vive como um santo do pau oco, sem nada por dentro, somente raiva e destruição.

Os dois lados da mesma moeda por Flávio Lopes Barbosa

By Flávio Lopes Barbosa

Flávio Lopes Barbosa é escritor, psicólogo, professor e diretor do portal o menestrel. Nasceu em São Paulo – Capital onde reside atualmente. Formado em psicologia clínica pela Universidade São Marcos, tem formação em letras pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em tradutor e interprete da língua inglesa pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em psicologia do trânsito pelo Centro Universitário Celso Lisboa, curso de psicanálise infantil pela Universidade Federal de São Paulo e especialização em dependência química. Lecionou durante anos como professor universitário na Universidade Nove de Julho. Iniciou sua carreira como escritor se dedicando a uma escrita técnica e científica. Atualmente trabalha como psicólogo do trânsito junto ao Detran SP e escreve contos de terror psicológico. Possui nove livros publicados, gosta de abordar temas polêmicos e críticos em seus artigos, normalmente voltados para área pessoal e social.

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