Desejo e razão, embora pareçam distintos, tem muito mais em comum do que pensamos. Segundo Freud, o desejo é algo que está reprimido, faz parte do nosso inconsciente e muitas vezes sofre um certo bloqueio do nosso senso crítico. Já a razão, ainda segundo a psicanálise freudiana, é o resultado dos nossos julgamentos, é o veredito daquilo que é certo ou errado. Porém, ainda que esses dois mecanismos ajam em sentido contrário, existe um grau de convergência muito sutil, que acaba passando despercebido no nosso dia a dia. Quem já não presenciou ou até mesmo vivenciou a seguinte situação: uma mãe, que após o filho fazer determinada bagunça, disse em bom e alto tom, “Eu ainda mato esse menino de tanta chinelada”. Outra situação hipotética: uma pessoa, cuja vida não está bem, diz em um momento de amargura, “Eu sinto muita vontade de morrer”. Além desses exemplos, ainda existem outros; uma pessoa que se incomoda em ver quadros tortos nas paredes, que confere duas ou mais vezes para ver se realmente deixou o gás desligado, mesmo sabendo que a válvula está fechada. Pessoas que sentem desejos sexuais, somente porque viram ou presenciaram uma cena de fetiche qualquer. Todos esses exemplos, se analisados a fundo, são transtornos psiquiátricos, doenças consideradas da mente, mas que são sentidas e vivenciadas pela maioria de nós como se fizessem parte da nossa rotina diária. Matar é desejo de psicopata ou borderline, um problema na qual a pessoa age por impulso sem medir as consequências dos seus atos. Sentir vontade de morrer faz parte de um quadro de depressão maior, doença psiquiátrica onde a pessoa sofre com a falta de desejo, sente uma angústia tão forte, que não possui mais vontade de viver. Ter o sentimento de obsessão e comportamento compulsivo, como no exemplo do gás, faz parte do famoso TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), doença psiquiátrica que enche a pessoa de manias, atrapalhando o seu convívio pessoal e também social. A lista de comportamentos é longa, esses são somente alguns exemplos, mas, o que se conclui é que somos pessoas que temos tudo, todos os tipos de problemas. Esse tipo de reflexão é essencial para nos ajudar a compreender que ninguém é melhor que ninguém, o que nos difere de um doente psiquiátrico, que está internado em um hospital, é o grau de comprometimento do problema, vivenciamos o desejo, mas não o fazemos, porém, sentimos. Desejo e razão formam a representação de um todo, duas peças de um mesmo quebra-cabeça, que juntas representam a soma de todos os males.

Os dois lados da mesma moeda por Flávio Lopes Barbosa

By Flávio Lopes Barbosa

Flávio Lopes Barbosa é escritor, psicólogo, professor e diretor do portal o menestrel. Nasceu em São Paulo – Capital onde reside atualmente. Formado em psicologia clínica pela Universidade São Marcos, tem formação em letras pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em tradutor e interprete da língua inglesa pela Universidade Nove de Julho, lato sensu em psicologia do trânsito pelo Centro Universitário Celso Lisboa, curso de psicanálise infantil pela Universidade Federal de São Paulo e especialização em dependência química. Lecionou durante anos como professor universitário na Universidade Nove de Julho. Iniciou sua carreira como escritor se dedicando a uma escrita técnica e científica. Atualmente trabalha como psicólogo do trânsito junto ao Detran SP e escreve contos de terror psicológico. Possui nove livros publicados, gosta de abordar temas polêmicos e críticos em seus artigos, normalmente voltados para área pessoal e social.

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